Sábado, 29.
O caso António Costa diz tudo sobre o estado da democracia e da União Europeia. Depois não se queixem com a guinada à direita que se assiste por todo o lado. Desçam do pedestal do poder e observem o mundo à vossa volta, aligeirados da canga sectária e do compadrio. Costa aproveitou ao máximo o cargo de primeiro-ministro para se impor em Bruxelas, ia lá por tudo e por nada, serviu-se do país para objectivar os seus sonhos megalómanos, deixou-o no trágico estado que qualquer português reconhece, ainda por cima com maioria absoluta e dinheiro a rodos, e teve como recompensa a presidência do Conselho Europeu. O do sorriso pateta que se governou com os mais esmerados esquemas de conivência, de seu nome Durão Barroso, nulo e oportunista no verdadeiro sentido do termo, apoiou o camarada Costa, num jogo às claras de como esta classe política, embora dizendo-se de direita ou de esquerda, quando chega o momento não é coisa nenhuma senão a materialização dos seus interesses pessoais. As honras, as benesses, os chorudos vencimentos e mordomias, são o único objectivo que os move – os cidadãos escumalha sem interesse. Os 31 mil euros mensais que o cargo oferece, limpa a consciência não só de um socialista (sobretudo deste), mas também outro de qualquer ideologia. A política é hoje esta nojeira.
- Ontem fui a Lisboa. Como as excelências dos caminhos-de-ferro estavam mais uma vez em greve, pude observar o caos por todo o lado. O uso e abuso da greve naquele sector, não é mais que a voz dos 2 por cento do PCP a impor aos trabalhadores que dizem defender o cansaço, a perturbação e o prejuízo no pagamento de passes que por sua causa não podem usar. Nenhum da chusma de comentadores tem coragem de falar no assunto e muito menos de analisar uma futura e urgente alteração da lei da greve.
- Pois foi, fui ao Chiado à Fnac comprar o livro de Irene Vallejo, O Infinito num Junco. Descendo para o Rossio, observei que alguém havia levantado do vão do prédio a que se refere o texto com fotografia acima apostos, o tapete e a enxerga de cartões que fotografei. Demasiada coincidência. Só espero que tenha sido dado ao infeliz cidadão, um lugar digno com higiene que ele se impôs a si mesmo naquelas condições.
- Na livraria fui atendido por um simpático rapaz que ia dançando entre uma caixa e outra nos extremos do alinhamento para pagamentos. Tinha um ar imberbe, voluntarioso, de quem não devia ter idade ainda para trabalhar. Insisto saber pormenores (os meus leitores sabem como sou curioso...) e venho a descobrir que anda a estudar e faz ali um estágio naturalmente não remunerado. Quase grito de indignação. Esta exploração que nem almoço oferece e muito menos transportes, é a imagem do abandono social e político que a nossa esquerda, com ou sem “geringonça”, nada se rala. Que importa um pobre rapaz que nem barba tem para votar!
- Magníficos momentos ontem na Brasileira na prossecução das emendas no romance. Do grupo capitaneado pelo António não estava ninguém, o que para mim foi óptimo porque não gosto de gastar o meu tempo a dizer mal deste e daquele. Não acredito em génios, e se me fosse lícito aconselhá-los, diria que trouxessem um baralho de cartas para as suas sessões diárias na esplanada - divertiam-se e não falavam tanto.