Segunda, 27.
Ontem, ao vir da missa das nove horas, logo à entrada do super, fui barrado por três jovens simpáticos que me convidaram a comprar qualquer coisa para os pobres e sem-abrigo. Aceitei o saco que me estenderam e quando o restitui disse que não concordava com aquele esquema social que dava a ganhar muito ao Estado através do iva e aos supermercados. Participei porque sei que há dois milhões e meio de pobres e louvo a iniciativa da Senhora Isabel Jonet. Depois, no telejornal, vi que Marcelo também se juntou a acção não porque a coisa o atinja, mas porque apostou na governação trolaró que é a sua. De contrario, não se teria recandidatado ao segundo mandato presidencial, até porque ele próprio havia dito que se não retirasse das ruas a imagem indigna de seres humanos a viver na indigência, não aceitaria outros cinco anos de presidência. À sua maneira roeu a corda – a vida airada é melhor que a solidão para a qual não fora traçado.
- Passei o dia todo a ler. Tenho um calo no pé direito – aquele que puxa pelo outro – e me provoca não só dificuldade em andar como me causa muitas dores. Fui à farmácia e saí com uma pomada-antibiótico e pacotinhos de gaze. Agora ao fim do dia parece-me estar a melhorar. Gosto de estar só, mas não suporto que as circunstâncias da vida me obriguem ao sedentarismo e ao isolamento. Sou um solitário cercado de gente.