domingo, maio 12, 2024

Domingo, 12.

“Rezo três vezes por dia; durante grande parte desse período, quando posso, tento manter esse silêncio sem imagens e apofásico, um vazio completo, mas muitas vezes necessito de me apoiar na meditação bíblica, em outros géneros de imagística e na disciplina dos salmos ou de outros textos. Na verdade, faço-o por mim própria, mas também rezo pelos outros e para que o meu silêncio possa ser útil de alguma forma no mundo barulhento em que vivemos. Ganho o meu sustento, faço caminhadas, dedico-me à  leitura e à costura. Penso no silêncio. Sinto-me extremamente feliz na minha casinha. Mas apesar de me sentir feliz e esperançosa, ou talvez mesmo por isso, continuo a achar que o silencio é profundamente misterioso.” Não se pense que sou eu que assim se exprime apesar de o silêncio me ser indispensável e até alicerce da minha vida. Estas palavras são da escritora americana Sara Maitland na sua obra O Livro do Silêncio (pág. 372). 

         - A missa a que assisti via RTP1, foi transmitida da igreja Cristo Rei da Portela, em Lisboa. Pelo que me foi dado observar, é uma capela muito bonita no interior, mas onde só cabem uma dúzia de fiéis, na circunstância os que participaram no coro, na sua maioria jovens. Pela sua singeleza, senti-me entre eles, irmanado na mesma intimidade em Jesus Cristo. 

         - Tenho praticamente concluía a leitura de Deus na Escuridão. Na página 184, deparo-me com esta curiosa interpretação da solidão. O narrador fala do irmão (no romance) que nasceu “sem origens” ou seja com uma qualquer deficiência a nível dos órgãos genitais: “A solidão que  me trazes abre meu corpo ao meio, metade do corpo só sabe cavar, a outra metade só sabe cair.” Aliás o romance está bem abastecido de ideais humanos, levantados da consciência que levou Terêncio a afirmar: Homo sum: humani nihil a me alienum puto.