segunda-feira, maio 05, 2025

Segunda, 5.

Com franqueza não tenho paciência para ouvir, ver e argumentar sobre a capacidade moral e política da rede de candidatos à chefia do país. Vi o debate entre os máximos do PSD e PS e por aqui me fico. Ontem, espreitei por breves minutos o da RTP1 e desliguei o aparelho farto de ver o aproveitamento da célebre Spinumviva – empresa de Luís Montenegro que espero com tanta propaganda seja bem aproveitada pelos filhos que a herdaram. Aquela obsessão que serve ao PS e ao Chega, que não têm programa sério e inovador para apresentar, como pretexto para denegrir um homem que fez carreira política anos a fio na Assembleia da República e, por isso, teve tempo e tarimba para se preparar a voos mais altos e consistentes. Ninguém o acusa de ter praticado qualquer crime, e quanto ao que o incriminam, é tão árido que não encontra chão seguro e foi prática de todos os partidos durante décadas. 

         - De contrário, vejamos. É ou não verdade que o Parlamento sempre foi povoado pela chusma de advogados que ajudaram a fazer certas leis em seu proveito próprio como, por exemplo, aquelas que dão primazia e tempo aos corruptos para irem acumulando fortuna enquanto nos tribunais entram contestações, pedidos de adiamento, declarações disto e daquilo, de forma a protelar julgamentos e acórdãos, condenações e outras penas ou coimas; enquanto o desgraçado que roubou duas  galinhas aqui, três patos acolá, é facilmente engavetado no prazo de dias. É ou não verdade que no Hemiciclo, os deputados escolhidos pelos portugueses para os representar em exclusivo, sempre pertenceram a centrais de advocacia, trabalharam nelas, decidiram julgamentos, montaram grandes empresas, protegeram empresários ao mesmo tempo que na Assembleia labutavam na criação de novas leis e deste modo governarem a sua vidinha duplamente com dois ou mais empregos? É o não verdade que muitos deputados possuíam (e possuem) directa ou indirectamente negócios empresariais, cujos resultados em milhares de euros, somados aos que auferem no Parlamento, lhes oferece uma vida que a maioria dos portugueses não tem nem nunca terá? Então, se esta é a norma à excepção (até agora) do PCP, por que atiram pedras a Montenegro quando o que vamos sabendo (sem que ele me pareça um santo), é que antes de assumir a presidência do PSD e depois a do Governo de Portugal, separou as águas e não há vestígios de corrupção de nenhuma espécie nos seus actos. Ao contrário do que se passa e passou no PS onde casos e casinhos são mais que muitos. Recordo o que costumo dizer dos socialistas que são mais social-democratas que outra coisa: “Aquela gente adora, come, dorme a sonhar com riqueza.”  

         - Fui ver Conclave aconselhado (imagine-se!) por João Corregedor. Que dizer? Confesso que não saí deslumbrado apesar de tudo o que tenho lido sobre o trabalho de Edward Berger o realizador. A mim não me trouxe nada de novo, nada que eu não soubesse, nada que o mundo de hoje, com as suas divisões sociais e políticas, religiosas e sexuais, não extravase para dentro da Igreja. De resto, basta ouvir e ver o nosso cardeal de Setúbal, para só falar dos que nos estão próximos. A sensação que retive de hora e meia de filme, foi que Deus e os Evangelhos já pouco ou nada dizem àqueles que os apregoam. Subjaz uma obsessão de diletantismo eclesial, uma profissão como outra qualquer, uma vaidade (veja-se o caso do pároco madeirense Tony) e tantos outros que se passeiam no Chiado. A simplicidade de vida, a austeridade como meio de desprendimento da atmosfera material, o sentido do sagrado enquanto escolha de vida, a reserva intelectual e intimidade com o Jesus que se fez igual a nós, todos esses valores que os distinguiam do comum, são hoje postos de lado em favor da luta política, da exposição pessoal, da direita e esquerda, do conservador e do modernaço que fala com autoridade de igualdade de sexos, de homossexualidade, de destruição do corpo como matéria de paixão dos costumes e da identidade de géneros. Toda esta dissonância, os cardeais inconsistentes e inconstantes, modernos e integrados como dizem na comunidade, já pouco sabem do que aprenderam em Teologia e Filosofia. Dentro do Vaticano vestem as cores cardinalícias, fora trajam o triste disfarce de se saberem padres, bispos ou cardeais e, portanto, poderem satisfazer os seus instintos “como qualquer mortal”. O filme, é uma fantasia à maneira americana de ver o mundo. O que há de belo em algumas cenas, foge em altura não por vontade do realizador, mas porque a beleza é a paixão de Deus. Aquele fim é simplesmente ridículo.

Os três cardeais-vedetas mais felizes e jovens do Conclave (o do meio é o tal de quem se fala), até ousaria dizer vendo-os tão joviais que a morte do Papa Francisco foi um acidente de somenos importância. 

         - Eu também passei pela publicidade e até fui director durante vinte e dois anos de uma agência. Por isso, se me permitem, quero olhar para a publicidade que hoje impera nas televisões. Um nojo para atrasados mentais que os criativos nos tomam e com razão. São anúncios impróprios num país que se tivesse autoridades oficiais que os fiscalizasse, seriam erradicados. Desde pura pornografia de um mau gosto execrável (como aquele anúncio dos odores), a ordinários próprios do influencer da Amadora e outros obtusos, tudo hoje é permitido à publicidade e já agora também à propaganda política. Ao abrigo da liberdade de opinião, ganha-se muito dinheiro sujo e catapultam-se abjectas criaturas a lugares inapropriados para as suas faculdades mentais e culturais.

         - O dia aqui foi duro. De tal modo que tive que invocar protecção divina para o trabalho que executei. Refiro-me à motosserra com que aparei os grossos braços do limoeiro: pesada, ruidosa, difícil de transportar pelo meio da erva alta e que as minhas forças físicas não facilitam. Depois, cortei os troncos para a lareira, sempre na indecisão do gesto que a chegada da velhice titubeia. Mas tudo acabou em bem e eu pude exultar e maldizer a chegada discreta da vetustez. A outra parte da jornada, cresceu em dimensão, seja aqui nestas linhas, nas leituras e nos pequenos trabalhos na cozinha. Com todo este rol, claro que não arredei pé deste imenso paraíso. O rapaz de outro dia que devia apresentar-se ao serviço, não veio nem avisou. Surpreendido? Nem um pouco. Não tenho ilusões, tento abastecer-me de mim próprio e tudo o que venha no aceno do imprevisto é bem recebido e por vezes uma grande alegria.