Sábado, 17.
Dia magnifico o de ontem. Largámos daqui às oito da manhã no meu carro. Não imaginava que os meus camaradas fossem tão divertidos e tão atentos à minha pessoa, disponíveis para pesquisar aqui e acolá o que me fazia falta e me levara a Badajoz. Alguma grande empresa encerrada de vez como, por exemplo, a do Corte Inglês Hipercor e outras famosas lojas. Todavia, o que notei foi um crescendo de restaurantes, e o que se mantém, a gritaria como se os espanhóis fossem todos surdos. Calor bastante, e aquela ausência, paralisia de morte, entre as duas e cinco da tarde para a sesta. Ruas desertas, taipais descidos, toldos nas janelas e varandas baixados, um silêncio estranho embrulhando a cidade num susto suspendo de um ritmo esquecido. Aproveitámos esse espaço de tempo, para um almoço no meu restaurante costumeiro, sob as arcadas da Plaza de los Alfereces, ali onde o mundo parou e só as vozes cruzadas de afectos e acontecimentos lançam o derradeiro grito abafado pela tarde caliente. Descansámos da longa jornada a cruzar ruas, praças e avenidas, de um lado para o outro, em buscas dos skimers, do toldo, dos produtos para a piscina. Nem tudo consegui encontrar, mas o dia saldava-se com o brilho de um trio tão diferente entre si e tão próximo e fraterno que dir-se-ia terem-se conhecido nos bancos da escola primária. Para lá conduzi eu, para cá o Johnson com as suas histórias dos “iluminates”, intercaladas com as da Bíblia a paixão do Nilton.
- O homem das vacinas, revelou, enfim, o segredo mais conhecido e badalado: vai candidatar-se à Presidência da República. Não terá o meu voto, mas estou certo que ganhará porque o povo está farto da lengalenga dos políticos.
- Não acompanhei a campanha (por protecção da minha sanidade mental) às legislativas salvo o debate entre os líderes do PSD e PS. Grosso modo, deviam todos esconder a cara pela vergonha que nos fizeram passar durante este último mês. Continuamos a ser o Portugal dos pequeninos que Salazar se impôs erguer e perdurar. Somos, de facto, muito incultos, pacóvios, provincianos. Somos e iremos continuar a ser, porque não se vislumbram no horizonte homens e mulheres capazes de levantar este pobre e triste país esquecido no extremo da Europa. Ainda agora, é futebol que absorve esta patetice geral, babada por este ou aquele pateta-herói em cuecas, pernas depiladas, a correr atrás de uma bola.
- Ontem, quando chegámos pelas oito da noite, o Nilton voltou a fazer um exame aos skimers e concluiu que talvez os possa recuperar. Sendo brasileiro, redimiu-me da minha desconfiança de um povo ligeiro, amante do samba e do futebol – ele é o único brasileiro que vejo a utilizar a cabeça com total capacidade e inteligência.
- Justamente, porque ele me aconselhou, comecei esta tarde a preparar o espaço envolvente à piscina roçando o mato com dois metros de altura. Calor insuportável de súbito. Saímos directamente do Inverno longo, para o Verão cortante.