Terça, 25.
Já se percebeu que a oposição não tem programa nem ideias para oferecer. Daí que o alvo vá ser Luís Montenegro que teve a pouca sorte de ter formado empresas muito antes de ser primeiro-ministro e mesmo de ser presidente do PSD. O torrão do Chega, pagou uns cartazes que hoje vi por Lisboa, comparando o chefe do Executivo com José Sócrates. É uma ordinarice que diz muito da forma de fazer política do sujeito. O líder do PS e ele devem ter-se combinado nesse paralelo. Mas quem sai com dignidade é o primeiro-ministro quando, desde o princípio, disse “não é não” a parcerias com a matulagem da extrema-direita e manteve a palavra até ao fim saindo por isso prejudicado.
- Nestes dias que trouxeram de volta o sol ainda que pálido, toda a quinta está submersa num cântico que a varre em todos os sentidos. A multiplicidade de tons, de vozes, graves e agudas, trinados rápidos e amplos, diálogos de uma beleza sublime, entre tenores e barítonos, constituem uma magnífica orquestra que assentou arrais nas árvores em volta deste mundo secreto e mágico. Não consigo reter nenhuma daquelas melodias, mas fico que tempos afundado a deliciar-me com a desgarrada que abraça o tempo e me leva de roldão com ele...
- Despachei-me a terminar o romance de Machado de Assis, Quincas Borba antes de ser operado. Outro dia, conversando com a Gi, ela que foi docente numa universidade do Brasil, disse-me que o livro é estudo obrigatório por lá. Não admira. Aquilo é uma loucura de criatividade, de invenção, de perspicácia humana e social, de delírio e fantasia. Quincas Borba morre logo nos primeiros capítulos. Como tinha dado o seu nome ao cão, e ao designar o amigo Rubião como herdeiro da sua imensa fortuna, deixa-lhe também a sua presença através do fiel amigo. Daí em diante, um e outro tornam-se inseparáveis. Até que a dada altura Rubião apaixona-se pela mulher do seu agente financeiro, a bela e encantadora Sofia. O que se segue é desvairamento puro. Não correspondido, Rubião-Quincas Borba, entra em loucura absoluta que o leva a nomear-se Napoleão III, ministro de sua Majestade, deputado do reino, militar e tudo o que as circunstâncias exigiam dele no estado em que se encontrava. É o seu criador na condição latente de desconstrução, entrando por assim dizer num mundo suspenso da extravagância criativa nunca antes alcançada, que impregna o romance da magia iluminada pelos valores humanos, o confronto de interesses políticos, morais, éticos e misericordiosos.
- Ontem e hoje, dias relativamente agradáveis. Esta manhã fui à natação. Água fria de tremer o dente. Depois do almoço, dei um salto a Lisboa levando comigo o tricot. Ando a adaptar-me a umas palmilhas ortopédicas que me trouxeram agudas dores lombares. Pensei que este problema se havia resolvido por si, mas voltei à estaca zero. A médica diz que as vá usando por momentos até me adaptar. A ver vamos se assim é. Fui em consulta sábado, volto lá amanhã. Quanto ao tricot, vou desmanchar as 25 linhas escritas da página 236.