Domingo, 2.
Todos os dias rebenta um escândalo que envolve os nossos queridos honestos e sábios e desprendidos do poder e do dinheiro, os políticos. Desta vez é mais um a somar aos anteriores relacionado com o senhor Vítor Escária, chefe de gabinete de António Costa, o tal que escondia 75 mil euros um pouco por todos os cantos do ministério. A Polícia Judiciaria, anda às voltas com uma pen drive guardada no gabinete deste amigo do outro que se escapou para Bruxelas. O objecto guarda segredos de Estado e a polícia suspeita de crimes de acesso ilegítimo e eventual violação das normas confidenciais de um Estado de direito. O sujeito foi constituído arguido. Quanto a Costa, mandou dizer que não sabe de nada.
- O Público de hoje diz na primeira página, que a violência doméstica não pára. Só desde o início deste ano, foram mortas cinco mulheres. A que se deve esta barbárie? A muitos factores decerto, mas quanto a mim a um fundamental: a recusa dos homens em aceitar a independência da mulher. Habituados a serem donos dela, a empurrar para ela todas as tarefas do lar, a terem-na presa em casa, é-lhes difícil verem-nas soltarem as amarras de escravidão de séculos. A equidade no relacionamento, é coisa que anula o homem e sobrepõe a mulher. Ora, homem que é homem, quero dizer macho e grosso, tem que domar com autoridade aquela que escolheu para sua vassala.
- Trump iniciou a viagem para o desastre e o desequilíbrio mundiais. Aplicou sanções económicas à China, Canadá e México. Os três países responderam como lhes compete, afirmando que também aumentarão as taxas alfandegárias para os EUA em igual proporção. Quanto a mim, se este espectáculo degradante da guerra económica prosseguir, vamos ter uma nova organização mundial com a China (se for inteligente), a formar um novo bloco mundial.
- Levantei-me naquela de não me ocupar de nada - leitura, romance, este diário - , vesti-me a rigor deixando para trás as calças rotas e as camisolas roídas da traça, tomei um duche e dispus-me a ir a Lisboa ao cinema. Antes porém, passei no Continente para comprar o jornal e tomar café, fazer algumas compras e regressei a casa para as pôr no frigorífico. Depois, de súbito, olhando o quadro que me é portanto familiar, decido descer lá abaixo para fechar o portão, subir ao quarto, vestir as calças coçadas, a camisola castanha com os emblemas redondinhos das traças e atirei-me a Flaubert. Li de uma assentada 40 páginas e de seguida fui para a cozinha assar um pato medonho que tinha trazido do C.I. quinta-feira. E então, sob os cantores das auroras, o dia decorreu sereno, quase mágico, envolto numa névoa de luz ténue, que me deixou de chinelos como um pobre coitado que a morte chama das alturas da existência renascida.
- Falei ontem da coqueluche do momento, madame IA. Pois. A nossa estimada UE, bem pode lançar foguetes e apanhar as canas, que o senhor Trump, atento, acaba de marcar as distâncias que, de resto, eram já suas atendendo ao desenvolvimento que a coisa tem nos Estados Unidos. Dito de outro modo. Enquanto a União Europeia a semana passada anunciou, galharda, um investimento de 1,5 milhões de euros; o mestre do desassossego, respondeu com 500 mil milhões de dólares para o desenvolvimento da Inteligência Artificial. Toma e embrulha. Os condecorados de Bruxelas, amantes do conforto e da vida airada, não acordam e vão levar valentes ensaboadas de sanidade mental.