Quinta, 23.
No país original que é o nosso, onde a ladroagem toma postos importantes de governação, na Assembleia da República, no Governo, nos ministérios, autarquias, nas empresas públicas, não é de espantar que o teor dos furtos tanto passem por milhões (os milhares já não dão para nada), como por simples malas de viagem nos tapetes de chegada dos aeroportos. Foi o que aconteceu com o deputado do Chaga dos Açores ao Parlamento. O homem, mercê do cargo, tem viagens pagas por nós Lisboa/Ponta Delgada/Lisboa e, como as andanças são frequentes, não tem precisão de carregar com bagagem. Aqui entra a mão do larápio. Tanto no aeroporto da Portela como no dos Açores, o homem retirava do tapete a mala que melhor lhe cheirasse e seguia para casa sem que ninguém estranhasse. Assim, em breve, muitos foram os passageiros a queixar-se da falta dos seus haveres. Foi quando o aeroporto, começou a perguntar ao olho que tudo inspecciona e em breve o gatuno é apanhado. Tanto na sua residência de Lisboa como na de Ponta Delgada, muitas foram as malas gamadas que a Polícia encontrou. Esta questão, leva-nos a outra: então o Chega, tão moralista e cheio de pregões nacionalistas de ordem e verticalidade, não conhece os elementos que seleciona para o seu partido e, sobretudo, para lugares importantes como o Hemiciclo? Como pode agora André Ventura rogar à Ministra da Saúde que tenha atenção ao cadastro de quem contrata para o SNS quando ele tem no seu reino (talvez não um), mas vários ladrões!
- O Inverno tem sido um pouco duro. Aqui, como a casa está isolada no meio da propriedade, é difícil aquecê-la. Annie que é rica, costuma dizer que prefere passar fome a passar frio. Ora, vem daí a minha ideia de que o conforto é um direito não meu, mas de todos os cidadãos. Acontece que no mês passado aqueci o quarto todas as noites e na cozinha ligado o ar condicionado enquanto a utilizo. Logo a factura que acabo de receber mais que duplicou de valor. Observando atentamente o documento, verifico que uma grande parte da soma é impostos. Que miséria! Vão-se os socialistas, vêm os social-democratas, e logo depois voltam os primeiros e assim o país vai andando e 50 anos passaram sem vermos um projecto digno, inteligente, pensado, executado e sólido para mudar o fado que cantamos pelas vielas do nosso descontentamento. Fomos pobres, somos pobres, não saímos da desgraçada, mas pagamos impostos de ricos.
- Ontem passei na Brasileira e logo apareceu o Castilho e outro companheiro. Ali estivemos os três a malhar no Trump, mais o Luís (não sei se é este o seu nome) que o Castilho, ricaço como é portanto mais próximo do monstro americano. Todavia, civilizados, sem exageros temperamentais nem hinos ao capitalismo. Dali fui ao C.I. onde tinha aprazado um almoço com o Carlos. Que decorreu no restaurante do topo, em amena cavaqueira, onde tudo surgiu na fúria dos ventos desalmados que sacodem tristezas e alegrias. A dada altura, não sei a que propósito (já sei falando nós do Guilherme Parente com quem estive a almoçar há pouco tempo), mostrei ao meu amigo que também é pintor, uma foto do nosso repasto. Depois, dei-lhe a conhecer a minha pessoa em diferentes fases da minha vida e idade. Carlos observava, observando-me, as fotos que a minha irmã guardou e eu só venho a conhecê-las após a sua morte. “Eras muito bonito - e repetia – muito bonito.” Alguns minutos depois: “Ainda és.” Bah, respirei de alívio...
- Cansativo trabalho esta manhã a tentar abrir o portão que ficou desde ontem definitivamente moribundo. Com medo de não poder sair com o carro, atirei-me ao seu arranjo com fúria. As batentes não giravam porque há muito tempo não eram untadas e daí o emperro que as paralisaram. De seguida, arrastei para o caminho, carregadas de terra que se concentraram à entrada arrastadas pelas águas das chuvas fortes destes três dias. Aguenta, camponês. É melhor, contudo, que ficar retido a ver o dia cair à janela de um apartamento na cidade ou a arrastar os pés pelos centos comerciais. Horror, horror!